sábado, 1 de dezembro de 2007

Conto: Quem manda na sala é o professor...

Acordei tarde, nossa já estava bastante atrasado. Depois de um banho rápido, senti a água atingir a coxa enquanto pegava a toalha e corria para fora do box. Era aula de introdução à contabilidade, e estar atrasado significava morte, literalmente. Ônibus lotado, tudo isso destruía minha vida.
Na faculdade, sentei-me na ultimas cadeiras. Por sorte consegui chegar minutos antes do meu carrasco. Ele entrou com seu velho machado que ainda estava sujo sangue, colocou sua pasta sobre a mesa e gritou algo sobre um teste para a turma que o observava. As terças-feiras eram os dias do velho machado, carinhosamente apelidado de “o contador” anos de uso e fio afiado já havia mutilado milhares de universitários. Esse era o tratamento empregado aos pobres coitados do primeiro período de administração.
Enquanto repetia seu velho costume de amolar o machado, seus olhos verdes metralhavam a turma em busca da primeira vítima. Gélidos pela presença daquele paraibano de um metro e sessenta, os alunos apenas tremiam. Eu era um deles, não o olhava nos olhos, observava apenas seus sapatos de couro gastos e respingados de sangue. Na loteria universitária da morte, eu fui o ganhador (sic). Pela primeira vez olhei em seus olhos, mas apenas alguns milésimos de segundo e perceber uma pequena gota de suor surgir do seu cenho e escorregar até as bochechas. Pegou o machado e caminhou aos passos em minha direção. Eu tremia e minhas mãos suadas deixavam cair pela milionésima vez à caneta. Aproximou-se mais, estava tão perto, já podia ver o meu reflexo na lamina do machado.
- O que é um balaço patrimonial?
Era para mim aquela pergunta que veio como uma bala, não estava em nenhum filme de ficção, então dessa não me esquivaria. Mas não sabia qual a melhor resposta. Aquilo iria custar meu braço, talvez uma perna ou coisa bem pior. Criei coragem, enchi os pulmões de ar e falei:
- Não sei!
Dessa vez ele que estava tremendo, não esperava aquele nocaute. Sempre as machadadas contra os alunos foram resultados de respostas erradas, mas ninguém jamais se omitira a suas questões. Alguns cochichavam, outros vaiavam e ele parecia não estar ali. Sua face era de um demônio contrariado, rangia os dentes. E como um guerreiro vencido abaixou os ombros, deixando cair o machado. O contador caiu e ali no chão parecia inofensivo. O professor voltou para perto da sua mesa, pegou um pequeno revolver em sua bolsa e antes de colocá-lo na boca, a ocupou:
- Classe, o balanço patrimonial é a demonstração contábil destinada a evidenciar, quantitativa e qualitativamente, numa determinada data, a posição patrimonial e financeira da Entidade.
E apertou o gatilho. Seus miolos se espalharam por toda a lousa, já não se podia ver a demonstração de resultados. Um por um, os alunos saiam insatisfeitos, a prova seria na semana que vez, talvez isso fosse atrasar um pouco a formatura.

PS: Isso é uma obra de ficção, uma historia escrita por alguém que tem muito que fazer, mas não ta afim. Qualquer semelhança é mera coincidência.